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Eles acham que sabem

25/05/17

A pesquisa da Microsoft com estudantes do ensino médio uruguaio mostra que 70% dizem ser especialistas em tecnologia, mas 40% não sabem o que é programação.
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"O que as crianças sabem sobre tecnologia" é o título de uma pesquisa realizada pela Microsoft para 650 alunos de 15 a 17 anos de escolas secundárias públicas e privadas em Montevidéu e Maldonado, em agosto e setembro de 2016. O mesmo estudo foi aplicado na Argentina e os resultados foram exatamente os mesmos, disse ontem o argentino José Cella, diretor nacional de Tecnologia e Filantropia da Microsoft para a Argentina e Uruguai, durante a apresentação dos dados, nos escritórios da empresa em Montevidéu.

 

"Sete em cada 10 adolescentes se sentem especialistas em informática", diz o estudo. Cella comentou que "não é uma novidade" e que todos os jovens pensam que são especialistas. Ele chamou isso de "muito sério, porque se eu me sinto um especialista, por que quero aprender", perguntou ele. "A definição de alfabetização informática é limitada", afirma o resumo da pesquisa, porque 30% responderam que "aqueles que sabem" são aqueles que usam o Word para uma tarefa, sabem como mover o mouse rapidamente ou podem ajudar seus pais, ou aqueles que sabem o que fazer quando o computador trava. Em contraste, "quase ninguém escolheu 'criar, antecipar, inferir e tomar decisões' para definir 'alfabetização informática'"; as associações de adolescentes foram "sempre para questões de uso, não de criação", disse Cella. Quatro em cada dez não sabem como funciona um computador: perguntaram "como funciona um computador?" e 60% responderam "porque alguém colocou programas nele", 20% responderam "porque eu lhe digo o que fazer" e outros 20% responderam "porque ele tem Word e Excel". A metade não sabia que o computador tinha uma linguagem própria. Quatro em cada dez disseram que não sabiam o que significava programação; 60% responderam que sabiam, mas, desses, metade disse que estava usando Word ou Excel e quatro em cada dez responderam que sabiam como fazer os deveres de casa com a Internet. "Você sabe o que é programação?" foi outra das perguntas: "apenas um em cada dez escolheu a criatividade, um em cada dez a capacidade de antecipar e dois em cada dez a capacidade de tomar decisões", percentagens que são "muito baixas", disse Cella.

 

Quanto à utilidade de saber programar, 50% responderam: "para ter um emprego melhor", 30% disseram que era útil porque estudariam informática e 20% "porque os ensina a pensar e resolver problemas". "A utilidade se deve apenas a razões práticas e não a habilidades essenciais para a vida", destacou o estudo, observando outras utilidades: pensamento crítico, resolução de problemas, espírito colaborativo, adaptabilidade, iniciativa, comunicação, curiosidade, imaginação, criatividade.

 

Desafios para o ensino

A Microsoft está preocupada com a falta de programadores. "Há muitas oportunidades em todo o mundo para programação. Para lhe dar uma idéia, aqui no Uruguai há muitas posições em aberto que não são preenchidas. Na Argentina acontece a mesma coisa, nos Estados Unidos há cerca de 1.000.000 de posições em tecnologia aberta. Só a Microsoft tem 10.000 posições em aberto nos Estados Unidos e não recebe pessoas; o mesmo acontece com o Google, Amazon, Yahoo, a mesma coisa acontece com todas as empresas de tecnologia. Também não há pessoas na Índia, e também não há pessoas na Europa. Não é uma moda, no próximo ano haverá mais trabalho", disse Cella. Ele lembrou que "o presidente uruguaio" assinou a Agenda da Juventude Pós 2015, da Microsoft e da Organização Juvenil Ibero-Americana, que mandatou que houvesse uma disciplina de programação de computadores por um semestre no currículo, no equivalente ao segundo ano do ensino médio. Cella disse que a Microsoft, juntamente com a Fundación a Ganar e o National Football Club estão desenvolvendo um programa para 30.000 jovens aprenderem a programar (que pode ser baixado do site www.yopuedoprogramar.com), e lamentou que ele não esteja incorporado ao currículo do ensino médio. O Plano Ceibal começou a desenvolver este ano o projeto Jóvenes a Programar, mas na palestra eles comentaram que "a escala é o problema" (durante este ano ele se dirigiu a 1.000 jovens e em 2018 pretende incorporar 2.000). "Nem podemos esperar que o Estado faça tudo", disse Cella, que argumentou que "estas questões sociais" não serão resolvidas nem pelo Estado sozinho, nem por organizações privadas ou do terceiro setor sozinho".

 

A pesquisa foi coordenada por Roxana Morduchowicz, especialista em cultura jovem; o comunicado de imprensa reflete sua opinião sobre o estudo. "As crianças (...) podem saber como resolver um problema específico com a ferramenta, mas estão longe do conhecimento reflexivo que queremos que elas construam e incorporem". Um exemplo disso é que quando o computador lhes oferece duas alternativas, muito poucas delas refletem e antecipam o que poderia acontecer antes de cada uma delas. Eles simplesmente ensaiam, e muitos deles nem sequer tentam. O grande desafio hoje é ensinar desde a escola as competências tecnológicas que acompanharão as crianças em toda a sua vida", comentou ele.

 

Fonte: La Diaria

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