Durante dois dias, autoridades dos setores público e privado, empresários e especialistas discutiram o futuro papel da "Internet das Coisas" na economia digital e sua importância para o Chile.
Em seus comentários iniciais, Andrés Couve, Ministro da Ciência, Tecnologia, Conhecimento e Inovação, argumentou que uma economia sustentável "não é opcional" e que o mundo acadêmico, privado e público deve colaborar para promover a competitividade e a inovação, com base na ciência e na tecnologia.
"Apesar de ser um país pequeno, o Chile tem vantagens como os 'laboratórios naturais' no sul e os centros astronômicos no norte, que temos que aproveitar para poder oferecer serviços globais baseados na inovação", disse o ministro.
"Embora o país tenha feito grandes avanços em infra-estrutura para conectividade como a fibra ótica do sul e promovido políticas públicas favoráveis a um ambiente empresarial, ainda existem lacunas como a formação de capital humano avançado e mais investimento do setor privado", acrescentou ele.
Nesta linha, Julio Pertuze, chefe da divisão de Economia do Futuro do Ministério da Economia, enfatizou que revoluções econômicas anteriores, como a industrial, ocorreram "quando os processos são inovadores".
Com os novos avanços na automação, 50% dos empregos serão afetados. É por isso que o Chile não pode chegar atrasado à economia 4.0. Pertuz destacou a astronomia como um fator diferencial para o país, que poderia representar 70% dos dados astronômicos do mundo até 2024.
5G
A 5G será a infra-estrutura chave para a evolução da Internet sem fio, devido à sua capacidade de alta velocidade de tráfego e baixa latência, o que permitirá a tomada de decisões em tempo real com base nos dados capturados por milhares de sensores.
Santiago Fontán, diretor de vendas para a América do Sul da Qualcomm, recomendou que as autoridades concedessem licenças de espectro locais para promover diferentes indústrias. Enquanto isso, Roberto Cabanillas, diretor de serviços digitais da Ericsson, disse que a digitalização de indústrias baseadas em infra-estrutura 5G poderia gerar um aumento potencial de 36% na receita comercial.
Entretanto, para o CEO da Memetica, Daniel Kopric, esta transformação digital terá um alto impacto sobre a cultura e os funcionários das organizações, que terão que procurar novos talentos.
MINERAÇÃO
A mineração em grande escala, uma parte fundamental da economia chilena, está se preparando para estas mudanças.
O Centro de Tecnologia de Mineração Avançada (AMTC) da Universidade do Chile está explorando a aplicação de tecnologias como a análise de grandes dados, automação e inteligência artificial para empresas de mineração.
O diretor executivo da AMTC, Javier Ruiz del Solar, disse que uma maior colaboração entre os centros de inovação e as empresas fornecedoras é essencial para transformar os protótipos em produtos.
A segurança das pessoas é o principal objetivo que as empresas de mineração buscam com a automação.
"As máquinas fazem o trabalho, o software faz a inteligência e as pessoas o controlam", explicou Ronald Monsalve, da comissão estadual de cobre Cochilco.
Ele acrescentou que, assim como a Austrália, o Chile tem uma grande oportunidade de criar serviços digitais e exportá-los, com base na engenharia para mineração.
O produtor estatal de cobre Codelco está implantando um modelo BIM, que é um processo apoiado por várias ferramentas tecnológicas que ajudam as empresas a estudar, planejar e monitorar a eficácia de novos projetos.
De acordo com Nancy Pérez, vice-presidente de projetos da Codelco, somente uma mina com operações 100% digitais e integradas poderá tirar proveito de tecnologias como inteligência artificial e grandes dados.
A inovação também está revolucionando a indústria energética.
José Ignacio Escobar, gerente geral da América do Sul da Acciona, comentou que os drones e a tecnologia 3D estão sendo utilizados para inspecionar a infra-estrutura energética, o que permite reduzir os custos das inspeções humanas. A Blockchain também tem o potencial de rastrear a origem da energia renovável.
"Apesar de ser uma indústria de longo prazo, a velocidade da mudança está aumentando a cada dia e você tem que se adaptar", disse ele.
STARTUPS
A fundadora e CEO da Spring UP Technology Entrepreneurs, Carla Muttoni, disse que eles terão que tirar mais proveito da economia colaborativa para o desenvolvimento de um ecossistema digital.
O executivo destacou empresas como a WeWork, que não apenas alugam espaço de escritório, mas também ajudam a criar um ambiente colaborativo.
A colaboração também é essencial ao buscar financiamento, de acordo com Richard Haensel, fundador da Zissmo, uma plataforma chilena peer-to-peer projetada para conectar empresas privadas e investidores em todo o mundo.
A iniciativa estatal Start-Up Chile tem sido bem sucedida na promoção de uma cultura empreendedora no Chile, mas o financiamento inicial que seus participantes recebem muitas vezes não é suficiente. É por isso que a iniciativa introduziu o programa "Escala", que oferece fundos adicionais para fazer crescer as empresas existentes e ajudá-las a evitar "o vale da morte", segundo Sebastián Díaz, o diretor executivo do programa.
REGULAMENTO E SEGURANÇA
O crescimento da economia digital envolve múltiplos desafios regulatórios para os governos, observou Germán Arias, ex-comissário da Comissão de Regulamentação das Comunicações (CRC) da Colômbia.
De acordo com Arias, devemos atingir padrões industriais e não impor padrões nacionais para permitir a prestação de serviços em modo transfronteiriço, roaming internacional de dados e compartilhamento de infra-estrutura.
"É essencial repensar o papel do Estado na regulamentação para que ela não seja uma barreira à inovação e ao desenvolvimento", disse ele.
Outro grande desafio diz respeito à privacidade e segurança.
A conexão de milhares de sensores em máquinas industriais, em casa e em nossos veículos também abre oportunidades para hackers e ataques cibernéticos, de acordo com Gabriel Bergel, Embaixador Chefe de Segurança da Elevenpaths, parte do grupo Telefónica.
"Tanto os governos quanto as empresas terão que se tornar mais conscientes e implementar políticas e leis que protejam os dados dos usuários", concluiu ele.
Carlos Landeros, diretor da Rede Estadual de Conectividade, disse que o governo chileno está trabalhando para melhorar a segurança cibernética através de vários comitês interministeriais que tratam de infra-estrutura crítica, cooperação internacional e nova legislação, e está procurando fortalecer as capacidades de investigação, conduzir campanhas educacionais e implementar a Convenção de Budapeste do Conselho da Europa sobre crimes cibernéticos.
VEÍCULOS ELÉTRICOS
O gerente de veículos elétricos da Nissan, Francisco Medina, alertou sobre as ameaças do aquecimento global, do crescimento populacional e da crescente urbanização. Ele disse que a eletro-mobilidade pode ajudar a aliviar alguns desses efeitos, tais como a poluição por emissões tóxicas.
"Até 2020, 9 em cada 10 latino-americanos viverão nas grandes cidades", advertiu ele.
De acordo com os estudos, os preços das baterias cairão drasticamente até 2022 e o cenário mais conservador estima um crescimento anual nas vendas de veículos elétricos de cerca de 111% para 2014-2023, ou cerca de 20.700 unidades vendidas.
Além da redução das emissões, as novas tecnologias permitirão que os proprietários de veículos elétricos aproveitem o excesso de energia de seus carros para alimentar suas casas e devolver a energia não utilizada à rede.
MAIOR PRODUTIVIDADE E CIDADES INTELIGENTES
O Chile tem enormes oportunidades, mas também muitos desafios para aumentar a produtividade e participar da economia digital global, de acordo com Juan Francisco García Mac-Vicar, diretor executivo do Comitê de Transformação Digital da Corfo.
Ele acrescentou que o Chile é o último país membro da OCDE em gastos com inovação e desenvolvimento, investindo apenas 0,37% do PIB, em comparação com Israel (4,25%).
"Até 2021, pelo menos 50% do PIB global será digital, e o crescimento de cada mercado será impulsionado por ofertas, operações e relacionamentos melhorados digitalmente", comentou Garcia Mac-Vicar, acrescentando que atualmente 80% do PIB ocorre em cidades.
A missão da Corfo é melhorar a competitividade e a diversificação produtiva do país, através da promoção do empreendedorismo e do fortalecimento do capital humano e das capacidades tecnológicas.
De acordo com um relatório McKinsey de 2017, a digitalização no Chile poderia aumentar o PIB em até US$25.000, um aumento de 0,7% da taxa de crescimento anual.
Isso requer um roteiro e programas regionais de cidades inteligentes com iniciativas como o Do! Iniciativas da Cidade Inteligente. Os desafios são enormes, mas o trabalho já começou.
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